Desde pequenos, já ouvimos: “Por que você está chorando? Qual o motivo do choro desta vez?“ Ou “Pode engolir este choro!”. Assim, vamos nos desconectando da naturalidade e da importância de extravasar nossos sofrimentos pelos olhos. É preciso haver motivos e situações concretas, para elas surgirem. É preciso se esconder em um canto da casa ou o fazer debaixo do chuveiro. Se elas surgem na frente das pessoas, precisamos pedir desculpas e tentamos secá-las rapidamente em um movimento urgente de cessá-las. Parecem proibidas, ou nos alertam que estamos perdendo o controle de alguma situação. Neste período de isolamento social e pandemia, me deparo com muitas declarações sobre o chorar. Algumas lágrimas estão afogando algumas pessoas, porque simplesmente elas não se acham no “direito” de chorar: “Não tenho do que reclamar! Não está me faltando nada! Não tenho motivos para me sentir assim! Sinto culpa por estar me sentindo triste e com este nó na garganta, pois lá fora existem maiores urgências e pedidos de socorro!” E assim, vamos acumulando uma série de justificativas para não nos permitirmos sofrer pelos nossos próprios motivos. Vamos nos afogando dentro do próprio sentimento, simplesmente por não aceitarmos sermos seres humanos com suas fragilidades e impotências. Por não admitirmos nossas faltas, nossos medos, nossos vazios. Por não nos olharmos com a visão da imperfeição. Não se afaste do que parece temeroso, não empurre para baixo do tapete. Não se afogue no seu autojulgamento. Quando a lágrima surgir, deixe-a escorrer. Se agigantar sobre sua face. Dar-lhe a oportunidade de usufruir das sensações, depois de um choro bem chorado. Daquela que faz nos sentir ter ido para uma guerra, mas ter voltado. Suas lágrimas não precisam ter motivo, nem razão. Se precisar, chora sim! Deságua com a força que precisa, para abrir novos caminhos, pensamentos, olhares. Se a vontade lhe bastar, deságua...
Psicóloga Fabiana Witthoeft – CRP 08/08741
Comments