Na minha infância, nunca compreendi muito bem essa coisa de rituais fúnebres.
Sem compreensão, frente aquilo que eu desconhecia e que muitas vezes evitavam para mim.
Assustadora parecia à ideia de ver as pessoas que eu amava e convivia chorando inconsoláveis, como se tivessem se machucado feio no pátio da escola.
Aparentemente, aquele machucado nunca iria sarar. E depois então, colocavam aquele alguém que a gente muitas vezes já sentou no colo numa tarde de domingo, embaixo da terra dentro de uma caixa esquisita.
Depois de um tempo, eu percebia que depois daquele momento, elas não eram mais vistas entre nós. Por algumas vezes, achei que elas ficassem naquele lugar temporariamente, e esperava com que voltassem. Mas nunca retornavam.
Por muitas vezes, sentia a realidade da morte me atingindo em doses homeopáticas, pois em momentos paralelos, vivenciava o estranhamento da perda e retornava a brincar esquecendo o fato. Mas quando o estranhamento ou a sensação de tristeza me tomavam, não sabia exatamente por qual via extravasar. Talvez tivesse sido importante que as pessoas ao meu redor pudessem não tornar aquele assunto um tabu, e me encorajassem a falar sobre meus sentimentos e pensamentos naquele momento.
Dentro das minhas fases infantis, fui aos poucos perdendo as impressões sobre infinitos, mesmo que os adultos acreditassem que estas partidas muitas vezes pudessem não ser compreendidas por mim, e que por vezes não precisasse lidar com elas. Não me recordo de minhas reações de meus lutos na fase da infância, mas me lembro prontamente de amigos que ao entrarem em contato com a morte, apresentaram mudanças bruscas de comportamentos, que sinalizavam maneiras particulares de viver estas perdas na infância, como infantilização, pesadelos, ansiedade, desinteresse por coisas que anteriormente gostavam, transtornos alimentares e até mesmo depressão.
Se para nós adultos, já é tão difícil externalizar e definir esta dor, imagine para as crianças? Com o passar dos anos, também compreendi a importância sobre meus pais e demais familiares, manterem fotografias e memórias destas pessoas falecidas a minha disposição, porque relembrar o passado, tornou meus dias futuros mais possíveis e reais.
Mas diante a todo cenário, havia uma indagação que já me aprisionava já bem pequenininha: “o que acontece depois que morremos?” Enfim, hoje aqui sentada em frente à lápide de duas pessoas especiais, compreendo que seja natural não ter estas respostas, que eu tanto queria saber quando criança.
Que seja muito provável que eu só consiga descobrir, quando passar para o lado de lá. Lado este que independente das suas crenças, possa ser um novo mundo, um céu azul, ou um punhado de terra que fará a minha flor deixada aqui manter-se viva.
Ajeito ás lágrimas dentro do meu processo atual de luto, levando no coração a sensação de infinito que eu tinha lá na infância, antes de entender que nada é para sempre, a não serem os vazios que vão se resssignificando de acordo com tudo aquilo que vai se despedindo dos nossos caminhos...
Psicóloga Fabiana Witthoeft – CRP 08/08741
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