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Sem público e renda, palhaço da Rua XV é contratado como cuidador na FAS

“É uma área nova para mim, mas estou me dando bem. Fico empolgado, esperando a hora de ir trabalhar”, conta.

Foto: SMCS/Hully Paiva


O artista de rua Carlos Roberto Teles, 45 anos, mais conhecido como Palhaço Chameguinho, está de emprego novo. Por causa da pandemia do novo coronavírus, ele deixou de imitar e interagir com os pedestres que passam pelo calçadão da Rua XV de Novembro, no Centro, para se tornar cuidador.


O novo trabalho dele fica na Mais Viver, unidade da Fundação de Ação Social (FAS), onde há pouco mais de um mês Teles cuida de pessoas que possuem deficiências físicas e intelectuais.


Das 19h às 7h, Teles faz parte de uma equipe que tem como atribuição orientar os acolhidos, encaminhar para banho, cuidar das roupas, trocar fraldas e monitorar o espaço da ala masculina da unidade, onde estão 25 homens.


Tudo muito diferente do que o artista fez nos últimos 31 anos de vida, tempo que teve como missão alegrar as pessoas com as brincadeiras do Palhaço Chameguinho.


Ele enfrenta o novo desafio com entusiasmo e determinação. “A vida é uma caixa de surpresas. Depois de tantos anos trabalhando como artista de rua vem uma tragédia como essa no mundo (pandemia da covid-19) e muda tudo”, diz.


Nem mesmo as quase seis horas que passa no transporte público para ir e voltar do trabalho desanimam o agora cuidador, que mora em Piraquara, na Região Metropolitana. “É maravilhoso trabalhar com pessoas.”


Redes sociais

Teles conseguiu o novo emprego depois de publicar um pedido de alimentos em uma rede social da FAS. O comentário foi visto pelo presidente da fundação, Fabiano Vilaruel. Como por lei a FAS não pode atender famílias de outros municípios, Vilaruel perguntou a Teles se ele gostaria de ter outro emprego. Com a resposta positiva, o artista de rua foi orientado a participar do processo seletivo para a contratação de cuidadores.   


Teles conta que postou o comentário por estar desesperado, sem nenhuma renda desde o dia 14 de março, quando deixou a ir para a Rua XV, para respeitar recomendações de distanciamento e evitar a contaminação pelo novo coronavírus. Ele fez também uma transmissão ao vivo no Facebook para falar do drama que estava vivendo.


“Passando o chapéu, eu recebia de R$ 200 a R$ 300 por dia. De repente não tinha mais nada. Eu só pedia a Deus para minhas filhas não passarem fome”, conta o artista de rua, pai de Eloá, 3 anos, Eloísa, um ano e meio, e Elohana, de apenas 15 dias. 


Planos para o futuro

Aprovado no processo seletivo, Teles foi contratado pela empresa terceirizada responsável pela admissão dos cuidadores da FAS. Essa é a primeira vez que o artista trabalha com carteira assinada e já faz planos para quando a pandemia terminar. Quer manter um emprego formal à noite e voltar a dar vida ao Palhaço Chameguinho, durante o dia.


Teles começou a trabalhar na Mais Viver no dia 21 de abril, junto com outros 15 novos cuidadores. A coordenadora da unidade, Sandra Dallagnol Hilario, explica que o grupo é orientado por educadores sociais para o desenvolvimento das atividades.  “Todos se mostraram interessados pelo trabalho e com vontade de aprender.” 


Proteção

Em funcionamento desde 1999, a Mais Viver oferta 50 vagas, para homens e mulheres que foram negligenciados ou abandonados por suas famílias ou sofreram violência. Na unidade eles contam com atendimento integral. Alguns frequentam escolas, participam de atividades esportivas, culturais e de lazer. Além disso, recebem todo atendimento que precisam como consultas e exames clínicos e especializados.


Fonte: PMC

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