Ontem foi meu dia de tomar a segunda dose da vacina da Covid. Como todo brasileiro acostumado e dependente de uma boa fila, logo imaginei, é hoje que vou saber se aquela bola entrou ou não, é hoje que resolvo o preço da gasolina, do ovo, do óleo, é hoje que vou mergulhar na lama de nossa política, enfim, é hoje que vou pegar uma daquelas filas que a gente até se despede da família. Fui, confiante. Afinal, qual brasileiro não gosta duma boa e longa fila? Na entrada do Parque Barigui, de carro, um guarda se aproximou:
— O senhor pode caminhar?
— Sim, perfeitamente — respondi.
— Não acha melhor estacionar o veículo e ir a pé?
— por quê? — perguntei.
— Que tal dar preferência aos que não podem se locomover?
Confesso que o guarda, além de me convencer, me comoveu. Estacionei o bruto e fui a pé. Encarei mais de 38 metros a pé, cheguei estrebuchando, mas confiante de que encontraria tudo que sonhei, uma fila daquelas de dia de votação. Logo na chegada uma mocinha de branco pediu minha carteira de vacinação, mostrei, mandou eu aguardar, aguardei dois segundos e apareceu outra mocinha, mandou eu para o guichê número dois. A moça do guichê pediu os documentos e a carteira de vacinação, clicou tudo no computador e pediu que eu entrasse no salão, sentasse numa daquelas milhares de cadeiras e observasse meu nome no painel. Escolhi uma cadeira mas, pra minha decepção, meu nome apareceu no painel mandando eu me dirigir ao box 19. Dois jovens de branco me aguardavam, simpáticos, atenciosos, meteram uma agulhada no meu braço e me desejaram saúde.
Nem cheguei a esquentar a bunda na cadeira, nem fiquei sabendo se aquela bola entrou ou não, nem resolvi o preço da gasolina, do ovo, do óleo, nada, pura decepção. Portanto, se você é apaixonado por uma longa fila, e deseja resolver todos os problemas desse nosso Brasil, na fila da Covid, vá tomar sua vacina na Conchinchina porque aqui em Curitiba nem tempo de esquentar a bunda na cadeira a gente tem. Vou reclamar meus direitos junto à ASBRAFREFIL, Associação Brasileira de Frequentadores de Filas.
Autor do texto Mario Carlos Seletti
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