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Procuram-se Empreendedores: Mas quando acham, fazer o quê com os Ornitorrincos?


Foto: Google

Atualmente, um anúncio comum na Internet em sites de empregos: “procuram-se empreendedores”.


Mas o que será que as empresas, realmente, procuram?


Os Empreendedores (os que são assim)? Ou os que são excelentes teóricos (que discursam) sobre empreendedorismo?


Primeiramente, proponho entender como funciona, internamente, esse bicho raro – o Indivíduo Empreendedor para saber se as empresas, que tanto o procuram, estão prontas e dispostas a incorporar pessoas com sede de mudança em seus estáticos quadros de colaboradores.


Somos Seres Biopsicossociais e Culturais, até que se prove o contrário.


Portanto, para fazer jus a essa ampla denominação das dimensões atribuídas a nós, como pertencentes à espécie de Seres Humanos, faz-se necessário escutar a nossa “demanda” interna e promover o “atendimento” adequado às necessidades, como um todo.


O Ser Integral surge na harmonização dessas dimensões em nós. Visão, essa, originaria da Filosofia Oriental, na busca da integração das partes ao todo.


Assim, toda a necessidade traz em si o desejo de como gostaria de ser atendida. Ao se entender que as necessidades se encontram em dimensões distintas, é preciso utilizar “abordagens” diferentes para atingi-las, tal como o processo de atendimento numa agência de comunicação.


Quando são atendidas todas as necessidades da mesma forma, generalizando o processo, peca-se quanto à riqueza das suas particularidades, que é a chave primordial para obter a satisfação do cliente em um atendimento diferenciado.


Cada dimensão: Biopsicossocial e Cultural possui suas respectivas necessidades a serem saciadas em nossa vida. Porém, neste artigo, vou enfatizar a Necessidade que sempre existiu em nós e que faz do indivíduo: um Empreendedor.


Esta necessidade, muitas vezes sentida como ânsia que todos nós temos em diferentes graus, é a Auto Realização e recebe na atualidade o nome de Empreendedorismo.


Como o perfil empreendedor, visto em livros e escutado em palestras, é um produto da época contemporânea, para ser compreendido em sua essência é necessário vê-lo sob um novo olhar, como as necessidades culturais, condizentes à nossa época.


Caso contrário, ao utilizar lentes antigas e empoeiradas para ver o novo, sofremos a tendência de distorcer a imagem e conviveremos, através de julgamentos e conceitos pré-concebidos, com este indivíduo, a partir de nossa ótica convencional. Padrões pré-estabelecidos são eleitos como normais e todo o diferente é tido como algo anormal e projetado no outro, neste caso, no Indivíduo Empreendedor.


Mesmo reconhecendo o novo, tende-se à comparação a partir de referências conhecidas. Assim, torna-se fácil atribuir ao colaborador empreendedor adjetivos como: inconsequente, inconstante, louco, alucinados, idealistas e seguidos de comentários: “vive inventando coisas,

não para quieto e não sossega o facho”.


Parece ironia o que tempos atrás era visto como defeito no indivíduo, atualmente possui um nome e até é solicitado em anúncios de empregos, como qualidade e requisito básico exigido ao indivíduo: ser empreendedor.


Para que exista um espaço real para o colaborador empreendedor na empresa, as lentes contemporâneas devem mudar nosso olhar a fim de que possamos entender e valorizar a motivação interna do Indivíduo Empreendedor. Simples: é aquele que elege a Auto Realização como necessidade primordial a ser atendida em todos os momentos de sua vida.


Porém, a necessidade de Auto Realização não é estática, muito pelo contrário, é extremamente dinâmica, pois a cada momento de vida há um interesse diferente a ser realizado.


Assim, sua trajetória, expressa em seu currículo, é no mínimo insana para “olhos normais” Já fez de tudo um pouco, atirou pra todos os lados e ainda por cima não é linear, portanto não lógica na visão ocidental. É circular em torno de um mesmo centro: sua realização pessoal frente aquele interesse naquele dado momento de sua vida, que, seguramente, mudará numa fase futura.


Daí, em entrevistas de emprego o ser empreendedor sempre escuta: “Gostamos do seu currículo, mas não sabemos como o encaixar em nossos setores. Talvez, com tantas competências pessoais, já pensou em abrir uma consultoria própria?”


É exatamente aí que enfatizo a diferença entre o excelente teórico e o indivíduo empreendedor. Enquanto o primeiro pensa, calcula e discursa sobre quando deverá ser realizada uma ação empreendedora, o segundo a está realizando a todo o momento, por suas necessidades naturais e culturais, sem nem saber que existe um nome mais contemporâneo para isso. Continua sentindo, agindo e realizando…


Questiono: Será que esta procura pelo Indivíduo Empreendedor: proativo, criativo e multifuncional está apenas no discurso da empresa? Quanto tempo mais irá ocorrer essa incoerência do discurso com a prática real empresarial?


E quando o empreendedor atende a demanda do anuncio e consegue ultrapassar a barreira da entrevista, o seu chefe não sabe o que fazer com esse animal tão raro, talvez colocá-lo na gaiola para que os outros o observem? Acredito que o indivíduo empreendedor prefira mais o meio aquoso com liberdade para nadar – tal como um Ornitorrinco.


Esse animal, o Ornitorrinco, ilustra essa incoerência que quero expor, pois ele é, realmente, um enigma da natureza: corpo de castor, patas de rã, rabo de rato, bico de pato e ainda por cima com dentes de leite. Apesar dos pesares ele existe com certeza e tem sua identidade própria sob qualquer suspeita.


A Natureza é perfeita. Então, por que duvidar disso? Provavelmente, ela tinha um propósito, com a criação do Ornitorrinco, que foge à nossa lógica linear.


A Natureza é uma Empreendedora, sem dúvida, bem criativa, pois dispôs da circularidade em sua criação. Permitiu que houvesse um ser vivo que para ser um exímio escavador deu-lhe corpo de castor; para melhor fixação a terra deu-lhe patas de rã; para uma rápida movimentação: o rabo de rato seria de bom tom, e, finalmente, para se alimentar deu-lhe bico de pato com dentes de leite. Perfeito! Pronto: Assim se fez o Ornitorrinco!


Só que há um detalhe, um segredinho: só nós sabemos, por comparação às referencias conhecidas, que ele é feito de várias partes de outros animais, mas ele nem sonha com essa remota possibilidade de sua existência. E por que ser estraga prazeres? Contar isso a ele não o levaria a nada, só contribuiria para uma profunda crise de identidade ornitorrinca.


Pergunto: Será que a empresa, hoje, está pronta para atender às necessidades desse animal raro que parece almejar tanto e demanda, incessantemente, em seus anúncios: o indivíduo empreendedor?


Ou sua empresa ainda está na época de perguntar a um ORNITORRINCO numa entrevista de emprego:


– Qual é o seu propósito de trabalho?

Possivelmente, a entrevistadora treinada em recrutamento e seleção, agiria assim: – Veja bem, Senhor Ornitorrinco com seu corpo de castor o Senhor poderá integrar nosso setor de escavações. Mas suas patas de rã são valiosas ao nosso setor de fixação na terra. Porém será de grande contribuição o seu rabo no nosso setor de pesquisas sobre rapidez nos movimentos e sem falar no seu bico com dentes de leite que é perfeito ao nosso setor de degustação de alimentos sólidos para crianças em tenra idade.


Mas afinal, Senhor Ornitorrinco: Quer ser Castor, ou Rã, ou Rato, ou Pato? Diante da indecisão e perplexidade do pobre bicho que nunca se viu esquartejado desse jeito, e muito menos sabia que suas partes tinham nomes e pertenciam a outros animais, ocorre um desconfortável silêncio.


Artigo: Carla Ramos



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