Desde 2014 que o Brasil entrou em uma crise econômica tão grande que já podemos classificar o período iniciado neste já longínquo ano como uma verdadeira depressão econômica. No ano passado, seis anos após o início das dificuldades econômicas, nossa renda per capita (por pessoa) estava cerca de 12% abaixo do nível de 2013. Nesse ano, mesmo se as expectativas de crescimento se concretizarem, ainda assim fecharemos 2021 com a renda cerca de 8,5% abaixo do pico de 2013. Ou seja, estamos vivendo uma verdadeira “grande depressão brasileira”. Dentro de um cenário tão ruim, o que devemos esperar da economia para o ano que vem?
Realizar previsões econômicas é sempre um exercício bastante desafiador. Existe uma piada que diz que os economistas foram criados para fazerem os meteorologistas parecerem competentes. A economia é um objeto de estudo tão complexo pois existem muitos fatores que a afetam e que são difíceis de se prever. Fazer prognósticos econômicos é, portanto, sempre uma atividade envolta em incerteza. Qual foi o economista que previu que uma pandemia global arrastaria praticamente todos os países para uma recessão no ano passado?
Da mesma forma, não temos como ter total certeza de que não ocorrerá algum evento extremo semelhante que mudará totalmente o cenário econômico para o ano que vem, seja para o bem ou seja para o mal.
Feitas todas essas ressalvas, vamos ao que interessa. A maioria dos economistas, eu incluso, não acha que 2022 será um bom ano para a economia. Segundo o Boletim Focus, documento do Banco Central que compila as expectativas de mercado para a economia, é esperado um crescimento de apenas 0,5% para o ano que vem. Como a nossa população costuma crescer mais do que isso anualmente, isso significa que é provável que a nossa renda per capita caia novamente no ano que vem. Contribuem para esse pessimismo com a nossa economia vários fatores, como a alta exponencial dos juros que o Banco Central vem realizando para frear a inflação, o constante clima de tensão e incerteza política que vem marcando o governo Bolsonaro, e a já crônica insuficiência de demanda de nossa economia.
No entanto, é bom lembrar que dizer que o crescimento médio será baixo não significa afirmar que todos os setores terão maus desempenhos. Se as suas pernas estiverem dentro de um freezer e o resto de seu corpo estiver enfiado dentro de um forno, pode ser que na média o seu corpo esteja na temperatura ambiente. O mesmo ocorre com a economia.
Mesmo em um período complicado como o que estamos vivendo, certamente alguns setores prosperarão.
Com a nossa moeda desvalorizada como está, por exemplo, empresas que exportam os seus produtos tendem a se beneficiar. Durante a pandemia, setores como o de vendas online também cresceram muito e provavelmente se manterão aquecidos. Com o avanço da vacinação e a vida retornando cada vez mais ao normal (assim esperamos!), serviços que haviam sido fortemente afetados pela pandemia como bares e restaurantes, hotelaria e aviação civil também deverão ter um ano melhor em 2022. Por outro lado, o mercado de trabalho de maneira geral tende a permanecer deprimido e setores que dependem muito de bens importados também devem continuar com o pé no freio. Outra dica importante para o ano que vem é tomar cuidado com os financiamentos, principalmente aqueles cujos juros não são pré-fixados. Como não sabemos até onde o Banco Central aumentará os juros, você pode acabar caindo em uma armadilha.
Por fim, quero deixar aqui registrado uma mensagem de esperança. Por mais que as coisas não venham bem em nosso país, não há mal que dure para sempre. Como disse o escritor pernambucano Ariano Suassuna: “O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”.
Feliz Natal e um ótimo 2022 para todos!
Arthur Pentagna
Economista e mestre em Desenvolvimento Econômico pela UFPR
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