PRECONCEITO DUPLO
- Jornal do Juvevê
- 8 de mar. de 2021
- 2 min de leitura

Nessa semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, fui convidada a escrever sobre o preconceito contra as lésbicas, como parte de um conjunto de matérias sobre o tema para o Jornal do Juvevê.
Bem, eu não sou lésbica, por tanto, não tenho conhecimento de causa para falar sobre o assunto específico, mas eu sou mulher e conheço o preconceito e o que se direciona ás lésbicas não é mais do que uma ramificação do preconceito geral, no qual se notam agravantes, em relação ao preconceito contra os homossexuais.
De alguma forma, parece que homens gays são mais bem aceitos na sociedade de hoje, do que mulheres lésbicas. Não é difícil ouvirmos comentários do tipo: “gosta de mulher porque nunca pegou um homem de verdade”. A impressão que se tem é que a homossexualidade de uma mulher não chega nem a ser levada a sério, quem dirá respeitada como uma escolha consciente, madura e definitiva.
Talvez isso se deva ao fato de que o homem, mesmo sendo gay, continua tendo a mesma força física de homem e a mulher, com a mesma força física de mulher, porque, no fim, tudo se resume a isso, força física, que é a única coisa que coloca os homens em posição de vantagem em relação às mulheres.
Todos pensam duas vezes antes de dizerem uma “gracinha” para um homem gay, por exemplo, porque sabem que um murro dele, bem dado, independente de quem ele leva pra cama, vai doer como um murro de um homem e isso, querendo ou não, impõe algum respeito. Já às mulheres, não importa o quanto elas provem sua força no dia a dia, sua força de caráter, de vontade, de personalidade, de espírito, sua força intelectual, emocional, psicológica..., não importa, na consciência coletiva, se não tem a força física do homem, não inspira respeito, pois na pior das hipóteses, se lhes disserem alguma asneira e elas reagirem, podem sair arranhados.
Essa lógica Neandertal foi o que deu aos homens a hegemonia do poder ao longo da história, sua força física que lhe possibilitava fazer o trabalho pesado e construir edificações de cidades inteiras, deixou subentendida superioridade prevalecer por muito tempo. Hoje, no entanto, com toda a tecnologia que pode desempenhar esse mesmo serviço pesado, é chegada a hora de repensarmos o valor dessa força primária, que não tem servido mais do que para a agressão física, a violência, especialmente contra a mulher, em um ato desesperado na tentativa de manter o controle masculino. Mas isso é assunto para outras oportunidades.
O que quero destacar aqui, para não fugir muito do tema, é que a mulher lésbica enfrenta em seu dia a dia, não uma, mas duas formas distintas de preconceito: uma contra a sua escolha sexual e outra contra o seu gênero físico, sendo atacada em pequenos e grandes gestos cotidianos, moral, emocional, psicológica e até fisicamente. Por isso, nessa semana em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher, convido os leitores desse distinto jornal a uma reflexão, pois devemos reavaliar o tipo de força que ainda consideramos como referência para a superioridade.
Ana Campos-Poeta, editora da Revista Curitiba Suburbana, ativista cultural e Terapeuta Holística
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