COMO A NECROPOLÍTICA TRATA A PANDEMIA DE CORONAVÍRUS NO BRASIL
A pandemia de Coronavírus faz com que se tenha a sensação de que, para resolver os problemas, sejamos obrigados a passar momentos que nos levam a um verdadeiro teatro das sombras e da morte, quando o assunto é o combate do vírus por parte dos políticos. Claro que há exceções importantes, mas em regra geral é a postura da maioria dos políticos tradicionais: tratar a pandemia com a peculiar retórica política nos executivos municipais, estaduais e mesmo em muitos legislativos é se alinhar a política de descaso do desgoverno Bolsonaro.
Por que tentam nos enganar que a situação é diferente do que realmente é? Ou seja: usam do dom da retórica para tentar nos convencer que eles estão enfrentando a pandemia com sucesso e com postura mais combativa científica e mais organizada do que em outras esferas. O que não é necessariamente verdade, quando observamos bem de perto não é o que acontece. E para tratar sobre isso, neste breve artigo vou falar sobre a postura política dos governos municipais e do estadual, no caso do meu estado, mas o mesmo é visto em outros executivos estaduais. Em outros artigos já explorei o descaso e o negacionismo do governo Federal, ou melhor, do desgoverno Bolsonaro, que é um dos principais responsáveis pela situação de mais de 300 mil mortes que temos no Brasil.
Em Curitiba, na capital do estado, o administrador do executivo, o prefeito Rafael Greca, no seu mais clássico estilo de pavão, tenta dizer que Curitiba esta preparada por ele para enfrentar a crise pandêmica, que tem dinheiro, que vai comprar vacinas, dentre outras coisas, tentando fazer parecer que da parte dele está tudo uma maravilha em Curitiba. Porém o fato é que, assim como no desgoverno de Bolsonaro, só se tem olhos e ouvidos voltados apenas para o mercado e o empresariado, que são os que financiam as campanhas eleitorais. Vemos isso ações expressas nos decretos e normativas da prefeitura de Curitiba que vão no caminho contrário do que fala em suas belas palavras nosso erudito prefeito de Curitiba. Esse se coloca numa posição muito cômoda de dizer que o Ministério da Saúde enviando as vacinas, a estrutura de Curitiba para a vacinação está pronta. O que não é exatamente verdade, pois a estrutura que se encontra em mais condições de dar vazão para o processo de vacinação é o SUS, mesmo sucateado pelos governos que sonham em desmontá-lo e entregar toda a saúde à iniciativa privada. E outra questão, que segundo especialistas não corresponde à verdade é o fato de centralizar a vacinação em apenas um lugar, como fez com a instalação do complexo de Vacinação no Barigui, fazendo com que houvesse aglomeração das pessoas. Misturando no mesmo lugar, profissionais de saúde, pessoas comuns, transformando aquele local em um espaço propício para a propagação do vírus.
Outro aspecto importante sobre a questão e a forma como o executivo municipal trata a saúde foi a do fechamento das Unidades de Pronto Atendimento da Prefeitura - UPA´S para atendimento da Covid-19, mas mesmo assim deixando que sejam centros de triagem. Numa leitura moderna e atual isso jamais poderia acontecer em tempos de pandemia, mas não há outro interesse do prefeito a não ser o de atender aos que próximos dele estão. Trocando em miúdos, como se diz por essas bandas, é a mesma lógica que aplica o desgoverno de Bolsonaro. Em ambas as esferas de poder o que prevalece é a lógica do lucro, da ganância, do se dar bem politicamente, do se aproveitar da pandemia para com isso fazer o uso político nos momentos adequados. Se é que isso vai ser possível, pois a ânsia em atender ao “deus” mercado mesmo nesse momento pandêmico em que vivemos não permite esses devaneios de futuras pretensões políticas. Afinal, estamos diante de uma pandemia de coronavírus, agravada por suas variantes, que nos fez voltar quase à estaca zero em termo de combate a doença, mesmo com o processo de vacinação começando, pois isso tem acontecido a passos muito lentos em função da posição negacionista que o desgoverno de Bolsonaro tratou a pandemia até aqui. E se nada for feito pelas esferas de governos para dar uma guinada radical na forma com que se trata a pandemia, colocando a necessidade de lockdown´s casados com uma ampla vacinação em massa, podemos ter um quadro catastrófico que em pouco tempo, segundo estatísticos e especialistas apontam, os números poderão ultrapassar facilmente a casa dos mais de 450 mil mortos. Deixando um legado para as autoridades constituídas, leiam-se, os executivos municipais, estaduais e o executivo federal que não haverá retórica e bonitos discursos políticos que expliquem. Pois será tão brutal o número de mortes em decorrência da doença, como nunca se viu no Brasil.
Por outro lado, no que tange ao governo estadual de Ratinho Junior é a mesma postura de alinhamento e seguidismo, de uma forma mais educada de tratar o tema, mas com as mesmas consequências, pois somente tem dado voz e vez para aqueles que, de alguma forma, estão muito próximos das estruturas de poder e as financiam, ou seja: como no caso municipal ao “deus” mercado e aos empresários e contribuintes das milionárias campanhas que se avizinham em 2022. Isso é algo que nos causa muita tristeza política, afinal a lógica de um governo quando ganha uma eleição é governar para todos, sem distinções políticas e ideológicas, o que na prática sabemos que não acontece.
Neste quadro, nós as trabalhadoras e trabalhadores que somos governados com esse descaso precisamos constantemente buscar organizadamente o tratamento isonômico do poder, tratamento de todo mundo de maneira igual. E para que isso aconteça o momento de crise política que está instalado exige de todas as autoridades constituídas eleitoralmente governem para aqueles que as elegeram, que são as pessoas, homens e mulheres do povo, as trabalhadoras e trabalhadores que são quem compõe a maioria da sociedade e dos extratos sociais. E não que governem somente para aqueles que potencialmente irão financiar economicamente suas futuras campanhas que possam se estruturar social e política no sentido de angariar os votos necessários para que se elejam nas eleições.
O momento em que vivemos é um dos mais difíceis pelo qual atravessa a humanidade. Envolta em uma crise sanitária sem precedentes. Morrem no país nos dias atuais mais de 3.100 pessoas todos os dias. Enquanto a vacinação caminha a passos lentos, por causa da inoperância do desgoverno Bolsonaro, que como constatam os analistas, mesmo em meio a esse turbilhão de mortes, insiste em manter a posição negacionista, de colocar o mercado e a economia como prioridade, parecendo que não consegue visualizar o tamanho da tragédia que se avizinha bem à sua frente. Pois mantém suas leituras essencialmente econômica e não humana ao meio do caos que está estabelecido no país com a quantidade de mortes. Ignorando por completo o que dizem os médicos virologistas, que são os que mais entendem como o vírus se dissemina, se mantém vivo e circulante na sociedade, assim como ele está se reproduzindo em novas cepas. Mas parece que com uma viseira animal o desgoverno de Bolsonaro insiste em manter sua lógica de atender a seus mantenedores com a afirmação que a economia não pode parar. Deixando o vírus ceifar milhares de vidas humanas todos os dias.
É nessa postura seguidista do governo do Paraná a política do desgoverno federal busca também não envolver de forma direta os representantes dos trabalhadores nas tomadas de decisão que o governo do Paraná, resolveu encarrar a pandemia, até aqui. Pois existe há muitos meses um clamor por parte dos representantes dos trabalhadores no estado, de todas as centrais sindicais, para que possam ser chamados a opinar sobre a resolução da crise pandêmica, assumindo compromisso no que tange ajudar a orientar a sociedade para o melhor caminho de enfrentamento da pandemia no Paraná. Isso inclusive expresso pela pressão dessas entidades que com muita luta conseguiram que o Governo assinasse o decreto de lei nº 5.506 de 24 de agosto, que cria um Comitê Tripartite para enfrentar e proteger os direitos dos trabalhadores durante a duração da pandemia de Covid-19. Clamor esse totalmente desconsiderado até os dias atuais, em que esse comitê ainda não iniciou seus trabalhos. A pressão sobre as trabalhadoras e trabalhadores é também explicitada pela forma com que o governo de Ratinho Junior enfrenta a política educacional, pressionando cotidianamente pela volta às aulas presenciais no Estado, desconsiderando os altos índices de contaminação e mortes que o Paraná vive nos dias atuais. Os representantes dos professores, leia-se a APP/Sindicato, entidade que vem sofrendo desde a virada do ano de 2019 para o ano de 2020 uma perseguição sem precedentes por parte do governo estadual, este tentou inclusive ingerir na forma de como o associado ao Sindicato devia refazer sua opção individual, dada no momento de filiação ao sindicato ao tentar impor uma proposta de recadastramento ilegal, desconsiderando a vontade dos integrantes da categoria que optou num ato de foro íntimo e individual a sua filiação no Sindicato. Isso sem falar em outras pressões ao Sindicato e a categoria durante o decorrer do ano de 2020 e início de 2021. A tentativa de imposição pela volta às aulas deve-se, dentre outros motivos, porque o governo estadual sofre por parte das entidades de representação do ensino privado pressão total para a volta às aulas presenciais e busca na lógica da volta às aulas na rede pública uma forma de dar a permissão do estado também a uma volta de forma massiva no ensino privado. Essa posição cristalizada do Governo e de sua Secretaria de Educação se transformou num grande revés e uma lição que o governo Ratinho foi obrigado aprender, forçado pela resistência da categoria na posições da sua entidade de representação, que sempre alertou a tragédia que poderia ser e pela atualidade do avanço do vírus em função de as medidas restritivas não terem sido mais duras no começo da pandemia.
A postura do governo é de negar que os setores representativos dos trabalhadores possam participar desses comitês de crises. A determinação em não deixar as representações participarem da resolução dos problemas fazem com que o governador do Paraná descumpra a aplicação do seu próprio decreto lei 5.506 de 24 de agosto de 2020. Na perspectiva dos trabalhadores, mesmo fazendo mais de oito meses sem a instalação do comitê tripartite de crise, ainda insistem para que isso mude e que se garanta a participação que tem sido cobrada cotidianamente por parte das centrais sindicais, seus sindicatos e federações na resolução dessa crise pandêmica sem precedentes. Só assim, ouvindo a todos, empregados e patrões, que o governo terá chance de amenizar os alarmantes índices da doença.
O Governo Estadual de Ratinho Junior e o Governo Municipal de Rafael Greca precisam se descolar da necropolítica do desgoverno Bolsonaro e chamar as forças sociais para lutar em defesa da vida e da resistência ao vírus, com ações firmes e coordenadas, com as autoridades de saúde, que estão sendo necessárias de aplicação de lockdown geral em muitas regiões do Paraná e em Curitiba, de parar de insistir na volta às aulas presenciais enquanto a maioria da população não estiver vacinada. Junto a tudo isso é também necessário o olhar fraterno aos que mais necessitam e sofrem na pandemia instituindo de auxílios emergenciais complementares ao vergonhoso auxílio emergencial proposto pelo desgoverno de Bolsonaro (que foi aprovado no Congresso Nacional) e também com políticas firmes de manutenção de empregos e direitos das trabalhadoras e trabalhadores. Só assim conseguiram se desvencilhar e romper com a simples retórica da necropolítica que tem conduzido ao teatro das sombras e da morte, da forma como tratam a pandemia de coronavírus no Brasil.
MARCIO KIELLER
Presidente da CUT da Paraná e Mestre em Sociologia Política pela Universidade Federal do Paraná - UFPR.
*O Artigo escrito não corresponde necessariamente a opinião deste site
Comments