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O equilibrista


Equilíbrio. A palavra que tem diferentes significados nunca foi tão necessária como nos dias de hoje.


Lembro quando era menino e brincava de equilibrar a vassoura em apenas um dos dedos da mão. As vezes ela caia e havia o risco de bater em alguma coisa e causar algum dano. A falta de experiência não me deixava perceber esse risco e rapidamente eu tentava de novo. A sequência de tentativa e erro, me fez adquirir habilidade e com o tempo a peripécia deixou de ser um desafio, para ser algo fácil de se fazer.


Algum tempo depois ganhei uma bicicleta, e assim como aconteceu com a brincadeira da vassoura, errei algumas vezes. Mas desta vez, quem caia era eu, ou melhor, os riscos mudaram, mas o equilíbrio sempre foi o fator determinante entre o acertar e o errar.


Com o passar do tempo, o desafio em duas rodas ganhou um motor, e a motocicleta, que era meu meio de transporte, exigia além de equilíbrio, atenção e principalmente o respeito as regras de trânsito. Agora, não podia mais errar.


Estes exemplos mostram apenas a questão do equilíbrio relacionado a gravidade, e basicamente a momentos corriqueiros da minha vida.


Hoje perto dos 50 anos de idade, talvez não consiga mais equilibrar a vassoura na ponta do dedo, nem andar de bicicleta fazendo as mesmas manobras daquele tempo, mas com certeza, sei lidar muito melhor com situações que necessitam de equilíbrio.


Nas redes sociais, é comum ser surpreendido com longos textos e mensagens, por vezes inconvenientes. Posicionamentos políticos acalorados, teorias e ideologias defendidas a unhas e dentes e por muitas vezes uma polarização chata e cansativa.


Nas redes sociais qualquer um pode se achar técnico de futebol, especialista em vacinas, conselheiro amoroso, analista econômico, mestre religioso e tudo mais. O que importa é ter uma opinião e fazer com que ela seja a “verdade”. Como disse o sociólogo Zygmund Bauman, “Hoje, o medo da exposição foi abafado pela alegria de ser notado”.


O conteúdo de uma postagem e o resultado dela está sempre em segundo plano. O que mais importa é a quantidade de pessoas que a visualizam.


Por várias vezes iniciei algumas respostas ou comentários em uma ou outra postagem. Escrevi, pensei, escrevi, pensei, escrevi, e antes de apertar o “enter”, apaguei. Nestas ocasiões sempre me lembro do menino brincando com a vassoura na ponta dos dedos e do risco que era deixar ela cair e acertar alguma coisa e quebrar. Sempre lembro do menino caindo de bicicleta e aprendendo andar para nunca mais cair. Hoje não preciso mais sofrer uma queda para aprender como e quando agir. O equilíbrio está diretamente ligado a habilidade em se posicionar sem querer lacrar.


Diante do cenário polarizado que vivemos, o silêncio tem se tornado a resposta mais adequada.


Bauman nasceu na Polônia e viveu muitos anos em Israel. Ele, de certa forma, sempre foi um pessimista quando o assunto é capitalismo, ainda mais nestes tempos pós-modernos onde um celular custa muitas vezes mais do que um salário mínimo. Em um dos seus livros ele compara as relações como sendo líquidas, ou seja, podem escorrer por entre os dedos.


Atualmente, o que é sólido é cringe, antigo, careta.

E qualquer opinião contrária, é motivo para ser agredido de diferentes formas nesse mundo virtual, que machuca tanto quanto fosse real.


Outro pensamento de Bauman é “Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo”.


Como entender a multidão e a solidão ao mesmo tempo?

Milhares de contatos, mas poucos amigos para dividir uma xícara de café. Muitas curtidas, mas uma ou outra pessoa para lhe falar algumas verdades.


Até para sobreviver nessa selva tecnológica é preciso ter equilíbrio, saber frear o dedo na hora da postagem e ainda assim não se sentir sozinho por ninguém saber o que você pensa.


Não se preocupe, as vezes, é melhor virar uma página analógica do que acessar outra virtual.


Márcio Barros

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