"O Cortiço"
- Jornal do Juvevê
- 22 de jun. de 2021
- 3 min de leitura

O Cortiço – Aluísio Azevedo
O Cortiço narra a busca do português João Romão pelo enriquecimento e
para tal ele explora os empregados e é capaz de tudo para atingir seus
objetivos. Romão é dono do cortiço, da taverna e da pedreira. Bertoleza,
sua amante, o ajuda trabalhando sem descanso.
Opondo-se a João Romão, está Miranda, um comerciante bem sucedido
que disputa com o taverneiro um pedaço de terra para aumentar seu
quintal, entretanto, não havendo acordo, há o rompimento provisório da
relação entre eles.
João Romão motivado pela inveja que tem de Miranda que possui uma
condição social superior passa a trabalhar de forma árdua e a privar-se de
certas coisas para enriquecer mais que o outro português. Entretanto,
quando Miranda recebe o título de Barão, João Romão entende que não
basta ter dinheiro, é necessário também ter uma posição social
reconhecida e ostentar certos luxos, como frequentar lugares requintados,
teatros, usar roupas finas, ler romances etc, isto é, inserir na efetiva vida
burguesa.
Quando Miranda recebe o título de Barão e passa a ter superioridade
afirmada sobre seu rival, João Romão opta por várias mudanças no
cortiço, que agora ostenta ares aristocráticos, perdendo as características
de miséria e desorganização, passando a se chamar Vila João Romão.
Há, em paralelo, os moradores do cortiço que têm menor ambição, dentre
eles, Rita Baiana e Capoeira Firmo, Jerônimo e Piedade. O romance
busca mostrar a influência do meio sobre o homem, um exemplo bem claro
disso é o português Jerônimo que tem uma vida exemplar, porém passa de
trabalhador disciplinado para preguiçoso, displicente, para justificar afirma
que “o calor dos trópicos tiravam-me as forças do corpo”.
Como estratégia de ascensão social João Romão pede a mão da filha de
Miranda, porém, Bertoleza representa um empecilho já que percebe as
manobras do dono do cortiço para livrar-se dela e exige usufruir dos bens
que ajudou a acumular. Para se livrar da amante, Romão a denuncia como
escrava fugida e em desespero Bertoleza comete suicídio, assim o
caminho fica livre para o matrimônio de João Romão.
PERSONAGENS
Suas personagens são psicologicamente superficiais, haja vista que se
configuram tipos sociais, portanto, não são complexas, nem muito
individuais. Algumas delas:
João Romão é um português capitalista que veio para o Brasil com o
intuito de enriquecer de modo exacerbado; portanto, representa o
capitalista explorador. Esse personagem privava-se do luxo, gastando
apenas com aquilo que lhe traria mais dinheiro; foi assim que começou a
comprar o terreno para construir o Cortiço.
Bertoleza, quitandeira, vive com João Romão e é uma escrava que pensa
ter comprado sua liberdade; portanto, representa o trabalhador escravo.
Miranda é um português que veio para o Brasil e mora em um sobrado ao
lado do cortiço, portanto, o vizinho rico de João Romão. Assim, representa
a burguesia.
Jerônimo é outro português que também veio para o Brasil, na obra é visto
como um trabalhador bastante disciplinado.
Piedade, esposa de Jerônimo, figura a típica mulher europeia.
Rita Baiana, a mulata sensual do Cortiço, representa a mulher brasileira.
Capoeira Firmo, mulato que se envolve com Rita Baiana.
Arraia-Miúda é representada pelas lavadeiras, caixeiros, trabalhadores da
pedreira e pelo policial Alexandre.
Considere que o personagem principal da obra é o Cortiço, haja vista que
com a dinamicidade das ações na obra ele ganha vida tal qual a um
personagem e representa o coletivo; como o Naturalismo é uma escola
que prefere falar da coletividade, nada mais coerente do que valorizar o
coletivo – o Cortiço.

NARRADOR
O narrador aparece em terceira pessoa, portanto, é onisciente, isto é,
aquele que penetra na mente e nos pensamentos de todas as
personagens, sabendo de tudo que se passa. Esse narrador é tão
poderoso que julga e tenta comprovar, tal qual a um cientista, as
influências do meio, da raça e do momento histórico sobre as ações das
personagens; fato ligado à escola naturalista.
TEMPO
Em O Cortiço, o tempo é linear, com início, meio e fim. Embora não sejam
mencionadas datas, apreende-se que a história se passa no Brasil do
século XIX.
Foto: Google
ESPAÇO
A obra explora dois espaços. O primeiro é o cortiço, um amontoado de
casas desorganizadas, onde vivem os pobres. Representa a
promiscuidade das classes baixas e a mistura de raças; funcionando como
um organismo vivo (biológico). Junto a ele estão a pedreira e a taverna do
João Romão.
O segundo espaço é o sobrado do Miranda, ao lado do cortiço,
representando a burguesia ascendente do século XIX. Esses espaços
fictícios lado a lado geram uma mistura de raças e são enquadrados no
bairro de Botafogo, evidenciando a exuberante natureza do local como
meio determinante.
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