“É com muita honra que eu recebi o convite da professora Rosana Lamosa, que é uma colega, uma amiga de muitos anos”, comemora Szot.
Foto: Priscila Prade
A oficina de canto lírico com a professora Rosana Lamosa é o destaque desta quarta-feira (20/1) na 38ª edição da Oficina de Música de Curitiba. A atração conta com a aguardada participação de Paulo Szot.
Ator, dançarino e cantor lírico brasileiro, Szot ficou conhecido ao protagonizar o musical South Pacific nos palcos da Broadway em Nova York e Barbican em Londres. Por este trabalho consagrou-se como o primeiro brasileiro a erguer um Tony Award, o maior prêmio do teatro norte-americano; além de concorrer ao Laurence Olivier Award, o maior prêmio do teatro britânico.
Sempre vencendo barreiras, Szot tornou-se o primeiro cantor brasileiro a se apresentar em 2010, no Metropolitan Opera, em Nova York. Já se apresentou nas principais casas de ópera do mundo, entre elas Ópera Garnier de Paris e La Scala de Milão.
Na tarde desta quarta-feira (20/1), o desafio de Szot é passar parte do seu vasto conhecimento e experiência para os 31 alunos participantes e os 8 inscritos como ouvintes. Neste ano, as aulas estão acontecendo via plataforma digital no estilo EAD (ensino a distância). O que não tira o entusiasmo dos participantes, sendo 16 de Curitiba, 3 de outras cidades do Paraná, 7 que vão acompanhar a aula de São Paulo, 4 de outros estados e ainda 2 estrangeiros. Dos ouvintes, 4 são de Curitiba e outros 4 de outros estados. Quem quiser acompanhar a aula como ouvinte, pode se inscrever até o dia 31 de janeiro, no site https://oficinademusica.curitiba.pr.gov.br/.
Confira a conversa com Paulo Szot, a ligação dele com a cidade de Curitiba, as novas experiências do canto no formato on-line, com a chegada da pandemia e as participações na Oficina de Música. 1. Você é filho de imigrantes poloneses e estudou na Polônia. O Paraná tem a maior colônia polonesa do Brasil, com 1,2 milhões de pessoas, 300 mil deles vivem em Curitiba e nesse ano a cidade comemora 150 anos da chegada dos primeiros imigrantes poloneses. Você conhece Curitiba, qual é a sua relação com a cidade? Paulo Szot (PS) - A Minha relação com Curitiba e com a colônia polonesa é de extrema importância na minha vida. Em 1980, eu tinha 10 anos e foi quando o Papa João Paulo II visitou o Brasil pela primeira vez. Ele visitou São Paulo primeiro e depois foi pra Curitiba. Meus pais são poloneses, imigrantes e nós tínhamos na nossa casa um grupo folclórico onde meu pai cultivava as tradições polonesas, e a nossa intenção era de encontrar o Papa. Nós fomos até lá, meu sonho de menino de 10 anos era abraçar o Papa, mas eu não consegui. Escrevi uma carta para o Papa pra ele ficar sabendo do meu desejo e meus pais decidiram me levar para Curitiba. Nós fomos para o estádio Couto Pereira, onde haveria uma celebração com o Papa. Foi a minha primeira viagem interestadual, a primeira capital que eu conhecia fora de São Paulo. Eu fui vestido com trajes típicos poloneses e de repente uma moça bate no ombro da minha mãe e pede o “filho emprestado”, minha diz que não e pergunta o motivo. E ela diz que é para receber o Papa com flores no altar. E eu fui uma das crianças que recebeu o Papa em Curitiba e me marcou profundamente. A minha relação com Curitiba sempre foi de extrema simpatia, muito em razão disso. 2. Esta é a primeira vez que você participa da Oficina de Música de Curitiba? Qual é a expectativa? PS- Eu já participei da Oficina de Música de Curitiba, na primeira vez, com Neyde Thomas*, como convidado do consulado Polonês, para cantar canções polonesas. Eu me encantei pela cidade e pela técnica da professora Neyde e me inscrevi no ano posterior para participar como aluno da Oficina de Música e foi fantástico. Conheci muitos cantores brasileiros que depois tiveram uma carreira. É uma tradição a Oficina de Música de Curitiba e foi muito importante na minha vida. 3. Com o isolamento imposto pela pandemia, como tem sido a experiência da sua arte com os meios digitais? PS - O isolamento pegou todos nós de surpresa, principalmente todos aqueles que dependem do teatro para trabalhar. Obviamente que existem tentativas, mas nada se iguala ao que nós fazemos. O cantor de ópera não usa microfone, não usa meios de gravação como outros estilos, como o pop, por exemplo. O cantor de ópera não faz vídeo clip, não faz nada disso. Então a gente tentou se adaptar, muitos tentaram fazer coisas em casa, mas pra que funcione e que o som da voz fique com a qualidade da voz fique tão bom quanto em um teatro é preciso ter equipamentos muito bons, de estúdio profissional para captar a qualidade vocal. Vivemos tempos de incerteza. As pessoas mais com os pés no chão conseguiram usar esse tempo para estudar, mas é muito difícil ter uma paz de espírito em um momento tão incerto para a nossa profissão. É sempre difícil ignorar o fato de que os teatros continuam fechados ainda. 4. Há cerca de um ano, os shows on-line tomaram conta das plataformas digitais e se tornaram um sucesso em todo o mundo. O ensino da arte agora também rompe a barreira física e se lança no EAD, existe alguma técnica diferente pra que isso aconteça de forma fluida? PS – Existem formas que funcionam nas plataformas digitais muito bem, uma delas é o ensino. Claro que nada substitui o ensino ao vivo, o ensino físico, principalmente no canto, onde o instrumento é invisível, são sensações. Mas funciona, eu tenho tido oportunidades de conversar com alunos, pra trocar ideias, dar aulas online e tem funcionado sim. 5. Você é convidado na Aula de canto lírico da Rosana Lamosa, vocês já trabalharam juntos antes? PS - É com muita honra que eu recebi o convite da professora Rosana Lamosa, que é uma colega, uma amiga de muitos anos. A Rosana foi na verdade uma das primeiras cantoras que eu conheci, quando fizemos juntos o concurso Luciano Pavarotti, fomos finalistas, em 1995, no Rio de Janeiro e desde então a nossa convivência sempre foi maravilhosa. Além de ser uma excelente cantora profissional, de ter uma voz belíssima, uma escola de canto de um refinamento sem igual, é uma pessoa fantástica que você quer estar ao lado, quer dividir o palco, é uma parceria que já existe ha muitos anos e cada vez que a gente se encontra, que temos a oportunidade de cantar juntos, ou apenas conversar, é sempre uma alegria. A Rosana é dessas pessoas que quando a gente conversa, o coração sorri. Então é com muita alegria que vamos estar conversando sobre algo que nós amamos tanto que é o canto. 6. Que dica você daria a esses estudantes que estão se lançando no canto lírico? PS - São várias dicas né, eu completei 30 anos de carreira e é difícil escolher uma única dica. Se tivesse que escolher seria realmente ter a consciência de que se ama de fato o canto, porque não é uma profissão fácil de seguir. Só seguem aqueles que realmente amam, é um trabalho que nunca vai acabar, ele é constante. Se no fundo os jovens que estão começando a estudar sentem que é algo maior no coração, na alma deles, devem continuar obviamente. Mas essa certeza de que realmente você não consegue viver sem, ela é necessária para embarcar em qualquer manifestação artística hoje em dia. * A cantora lírica Neyde Thomas, foi considerada uma das principais cantoras líricas (soprano) do país no século XX. Em 1961 Neyde venceu o Concurso Achille Peri, em 1999 recebeu o Trofeu Texaco Metropolitan Opera International Radio Network e em 2002 ganhou o Prêmio Carlos Gomes, (o “Oscar da Música Erudita”, na categoria Universo da Ópera). Foi membro da Deutsche Oper, cantando em diversos lugares do mundo, como no Liceu de Barcelona, na Ópera de Monte Carlo, no Metropolitan de Nova York, na Accademia Nazionale di Santa Cecilia, em Roma; no Teatro Guaíra, entre outros lugares. Plácido Domingo e Luciano Pavarotti são alguns dos nomes com quem ela dividiu o palco. Em seus últimos anos de vida, foi professora da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, preparadora vocal das óperas do Teatro Guaíra e orientadora vocal da Camerata Antiqua de Curitiba. Faleceu aos 81 anos, em Curitiba, no ano 2011. Serviço Fonte: PMC
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