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AS ELEIÇÕES DAS MESAS DA CÂMARA E DO SENADO FEDERAL E O IMPEACHMENT DE BOLSONARO



A semana começou extremamente conturbada com as eleições das mesas diretoras da Câmara e do Senado, a casa de leis e a casa revisora. Conturbada pelo fato que primeiro não foi uma eleição independente como se espera que sejam eleições como essas, com respeito à harmonia entre os poderes.


Natural que isso aconteça. Pois é do jogo que as forças políticas se organizem sozinhas ou em blocos políticos. Porém, por mais que se negue, o que se percebeu de forma clara como a luz do dia é que houve a submissão de uma das candidaturas às hostes do executivo, através da distribuição de recursos de emendas e de cargos e proventos. Há tempos não víamos um esforço tão grande para que um candidato, o que o executivo negava veementemente que apoiava para que fosse vencedor, mas mobilizou uma tropa de choque e estruturas enormes para que o Bloco de Oposição não vencesse, o candidato que o planto diz que não é dele. E por razões muito óbvias. Afinal, o destino político do desgoverno de Bolsonaro está nas mãos do legislativo e também do Senado e de seus novos presidentes, com a clara possibilidade de abertura de um processo de impeachment, pois mais de sessenta pedidos se acumulavam na mesa do antigo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que não teve a coragem e a determinação histórica, de colocá-los para votar, porque é um fantoche do mercado, assim como Bolsonaro, o ocupante do Planalto. Então, deixou essa oportunidade histórica para os próximos presidentes.


Infelizmente, “as forças ocultas” leiam-se: o mercado, agiu conjuntamente para neutralizar o perigo, pois o fantoche do mercado, Jair Bolsonaro, exerce um governo negacionista, que joga na contramão das principais lideranças mundiais que defendem a vacina, jogam em favor da ciência e da lógica preventiva e destacam em alto relevo que o momento é fundamental e precisamos nos cuidar, porque estamos atravessando os piores momentos da pandemia, mesmo com o aparecimento de diversas vacinas. O momento é de extremo cuidado. Somente com a maioria absoluta dos países com vacinação avançada é que poderemos fugir do perigo que representa ainda o coronavírus no Brasil e no mundo.


No entanto, o desgoverno federal na toada seguidista do derrotado nas eleições americanas Donald Trump que insistia em pregar o descaso com o vírus, discurso que reproduzido nas bandas de cá à exaustão. Essa forma equívoca e negacionista de passar pela pandemia, faz com que, se formos ler os números estatísticos, somente nestes dois países: Brasil e Estados Unidos somados, constataremos mais de 800 mil mortes por causa do Coronavírus. O desgoverno Bolsonaro só se deslocou para uma posição relativamente diferente do que pensava antes com relação ao vírus porque os Estados Unidos eram capitaneados por Trump, que foi fragorosamente derrotado na eleição presidencial da “maior democracia do mundo”.


O atual presidente do EUA, diferente de Trump, não é um negacionista e sabe o tamanho do problema que o vírus representa para toda a humanidade. Somente por isso é que o Jair Bolsonaro começou a arredar o pé, ainda que muito contrariado de sua posição negacionista, de inimigo da ciência e de adepto do terraplanismo olavista, ou seja, como seguidor das teses defendidas por Olavo de Carvalho, que dentre outras posições neoliberais do mesmo pensador transformaram Bolsonaro que é mais confuso e mais autoritário que julga e condena de forma marcial aqueles que dele pensam diferente


Mas voltando ao tema da semana, as eleições nas mesas do Senado e da Câmara. Por mais retrocessos que possam representar, traz para o jogo político um novo componente: primeiro porque colocam um apertado laço nas pernas do nefelibata Bolsonaro (Nefelibata - Homem que vive nas nuvens) e o puxam para a mais dura e crua realidade, da nossa política brasileira desgastada e apodrecida; pelo descaso, pela desinformação, pela deseducação e desmonte do estado brasileiro; capitaneada por grupos econômicos nacionais e estrangeiros desde os finais dos anos 90 do século passado, que através de fortes e históricos lobbys pressionam o Congresso Nacional. E fazem isso através da organização de grupos financeiros para a manutenção de um grande número de parlamentares que se denominam de centrão, e que agem conforme querem os lobistas. Essa postura do Centrão há muitas décadas envergonha a sociedade política brasileira, pois transforma a política em como ela é no Brasil, a política do “Jeitinho”, a política do toma lá, dá cá, a política do é dando que se recebe. Organização política se dá através do já escrevem e explicaram os grandes e maiores cientistas políticos e pensadores brasileiros e alguns brasilianistas pelo mundo: esse grupo denominado de “Centrão” atua de forma histórica na busca da distribuição de cargos, proventos e emendas parlamentares para acalmar os ânimos dos deputados e senadores em seus estados na totalidade do mapa brasileiro.


Enfim, perpetuando a já tradicional e conhecida política brasileira do conhecido baixo clero, grupo mais fisiológico da composição do Congresso Nacional, que já produziu os anões do orçamento, os sanguessugas das verbas da saúde, que ficam esperando pelas migalhas do executivo em emendas parlamentares para que possam perpetuar seus mandados em suas bases parlamentares espalhadas por todas as regiões do país. Sendo o centrão o cancro duro da histórica política brasileira, assim como uma doença venérea que prejudica o corpo todo, ou seja, o centrão prejudica a democracia e as relações políticas e institucionais no Brasil. E apesar do histórico fisiologismo político que sempre fomos contra, É o centrão que acaba trazendo para o chão da política o negacionista desgoverno de Bolsonaro, pois o devolve para o lugar onde reinou e “dormiu” em berço esplendido por 27 anos, sem nada produzir, apenas sendo conduzido ao vento das articulações política do baixo clero, ou seja, o devolve para a via da política tradicional. Pois como dissemos, mesmo que contrariado, precisa se subjugar à política tradicional para tentar manter o seu mandato até o fim e tentar buscar sua cada vez mais distante reeleição. E para isso terá que atender às reivindicações do baixo clero centrista.


E, nesta semana fez isso numa “relativa e fácil” movimentação política para as eleições das mesas do congresso, pura e simplesmente destinando bilhões de recursos que sempre nega ter para outras áreas importantes do país. Bolsonaro destinou esses recursos enormes, inimagináveis das emendas para deputados e senadores, além das indicações de cargos de segundo e terceiros escalões para poder manter, somente um “certo controle” da arena política. Essencialmente para que não coloquem na ordem do dia das votações um dos mais de sessenta pedidos de impeachment que se encontram engavetados na mesa presidência da câmara. E o pior é que o cenário político, nem com todo esse investimento garantirá que isso não irá acontecer, pois se a vontade das ruas desses últimos finais de semanas se encorparem, ganharem mais vozes, o Congresso balança. Felizmente, os representantes da política tradicional que ocupam a maioria das cadeiras da Câmara e do Senado, adoram emendas, porque elas representam votos nas próximas eleições, mas também quando existe o chamado das ruas para que eles se posicionem, assim o fazem, pois sabem que o poder popular das pessoas e seus votos nas eleições são bem maiores que o peso do dinheiro do empresariado nacional e estrangeiro envolvido nas articulações políticas eleitorais internas do das mesas do Congresso.


Claro que ficou bem mais difícil colocar algum pedido de impeachment em votação, porque para colocar um impeachment político para andar dentro do Congresso Nacional é preciso que diversas variantes estejam favoráveis ao pedido das ruas. Por isso o esforço hercúleo do Planalto em garantir que ao menos o presidente da Câmara não esteja longe da sua influência política cotidiana para ceder a estas pressões. Porém, só poderá segurar um o pedido de impeachment, se ele não crescer. E a postura negacionista de enfretamento da Ciência, de sucateamento histórico do SUS, ainda mais num momento tão importante como o atual de enfrentamento ao vírus, tem transformado o Jair em vilão da pandemia, com carreatas e bicicletadas gigantescas exigindo, que haja a continuidade do auxílio emergencial para enfrentar a crise durante a pandemia.


Por outro lado, não podemos desconsiderar que fora um retrocesso enorme para os movimentos políticos, sociais e progressistas. Afinal, esperava-se que a conjunção política do bloco de centro-esquerda tivesse condições objetivas de colocar os processos de impeachment para transitar na Câmara e no Senado. Isso ficou mais difícil. Mas por outro lado é fundamental compreendermos que todo o discurso político e eleitoral usado por Bolsonaro na campanha, ou melhor, o pouco que ainda restava, caiu por terra, pois ele teve que se render, para sua própria proteção, desdizendo a política que o elegeu de não fazer alianças e distribuir verbas ou cargos para governar. E isso vai terminar de queimar um grande percentual de apoiadores que o apoiam por causa da promessa de romper com a velha e tradicional política. Postura política que de fato ele nunca teve, pois não nos enganava. Afinal quem passa vinte e sete anos se dando bem e se alimentando justamente destas hostes do centrão e do baixo clero, saberia rapidinho para onde voltar quando o calo apertasse.


Isso trás alguns complicadores, porém não irá frear os movimentos políticos, sindical e social que vinham numa forte toada na construção de um calendário de lutas pela busca do processo de impeachment no Congresso nacional pelas posturas irresponsáveis desse desgoverno de Jair Bolsonaro em relação á pandemia, a economia e ao povo, que ele nunca atendeu. Pois as únicas coisas que fez foi transferir a responsabilidade de política para o Paulo Guedes e se fixar na ideologização da política para disputar com as esquerdas. Enquanto o grande empresariado, nacional e internacional, consolidavam a enorme quantidade de direitos aviltados da classe trabalhadora, com as terceirizações, com a reforma trabalhista e a da previdência.


Por isso, agora é fundamental, dentro do “novo normal”, com todos os cuidados sanitários necessários, consolidar um vigoroso calendário de lutas que já vem sendo construído nas ruas do país inteiro, em um bem articulado movimento que não aceita mais o descaso e a irresponsabilidade com a vida das trabalhadoras e trabalhadores; fazendo de forma organizada a resistência para buscar a vacinação para todas e todos, buscar novamente o auxílio emergencial e garantir a volta às aulas somente com vacinação para todas e todos. E que mudar todo esse descaso só será possível com o impeachment de Bolsonaro.


Marcio Kieller

Presidente da CUT Paraná e Mestre em Sociologia Política pela Universidade Federal do Paraná – UFPR

*Esse Artigo não representa necessariamente a opinião desse site



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